Foto: João Caldas - © T4F/Time For Fun
Jesus Cristo Superstar, este é o
nome do musical que está em cartaz no teatro do complexo Othake Cultural em
Pinheiros/SP. O nome nos remete a um Jesus estrela, um Jesus que busca e anseia
por atenção. Mas há muito mais por trás desse pano do que se pode conceber.
Antes
de mais nada o espetáculo trata Jesus como um de nós, um ser humano com seus
medos, anseios, desejos, inseguranças, dúvidas, amores. E talvez seja isto que
incomode tanto os contínuos protestantes (de protestar, não da religião) que se
acumulam em frente ao teatro em quase todas as sessões e que na última
sexta-feira (sexta da Paixão) chegou a reunir mais de 100 manifestantes em
frente ao teatro, obrigando a presença da Polícia e de cordões de isolamento.
Incomoda, pois não trata Jesus como divino o tempo todo, não o coloca como
salvador absoluto e ainda o expõe com suas dúvidas, todas elas inseridas na
principal “oração“ da peça “Getsêmani”, cantada e interpretada com tamanha
paixão e entrega por Igor Rickli.
O musical é considerado uma Ópera-Rock, ópera pois termina em tragédia, sim um spoiler desconhecido, Jesus morre no final. Rock pois todas as músicas são bem pesadas em metais e guitarras o que deixa a peça com uma dinâmica intensa da primeira à última música, que por acaso são ambas cantadas por Judas (Alírio Netto) que com sua voz conhecidamente “metaleira” dá o peso necessário as canções.
Foto: João Caldas - © T4F/Time For Fun
O musical é considerado uma Ópera-Rock, ópera pois termina em tragédia, sim um spoiler desconhecido, Jesus morre no final. Rock pois todas as músicas são bem pesadas em metais e guitarras o que deixa a peça com uma dinâmica intensa da primeira à última música, que por acaso são ambas cantadas por Judas (Alírio Netto) que com sua voz conhecidamente “metaleira” dá o peso necessário as canções.
As
interpretações são primorosas, todas lapidadas com atenção pelo diretor Jorge
Takla. Igor Rickli como Jesus dá todas as nuances ao papel, todos aqueles
sentimentos que nos tornam humanos são perceptíveis em suas “falas” (o musical
é 100% cantado) e olhares; Alírio Netto como Judas e amigo de Jesus sempre
apresentando suas dúvidas quanto ao plano de Cristo e insegurança ao cumprir
sua tarefa e Negra Li como Maria Madalena e seu sentimento amoroso/materno
quanto a Jesus, tentando protege-lo das angústias e dores de ser quem é. O
Ensamble é extremamente talentoso com destaques a Rogério Guedes fazendo um bem
maligno e sem coração Caifás e com seu tom de voz (baixo profundo) nos passa a
sensação de pavor pelo som que ecoa; Fred Silveira como Pilatos, com
interpretação impecável como juiz de Jesus, Wellington Nogueira fazendo o
ShowStopper do musical, num número surpreendente e irreverente diante de tanto
peso da última semana de Cristo e Beto Sargentelli que apresenta uma música que
nos remete a um ritmo mais Gospel e o faz com um brilho e talento incríveis.
Foto: João Caldas - © T4F/Time For Fun
A
peça tem uma hora e quarenta e cinco minutos de espetáculo, tanto para os olhos
quanto para o coração. Para este crítico, “uma peça de teatro só cumpre sua
função se o expectador sair diferente de quando entrou”, e esta peça cumpre com
isso. Por mais que as pessoas discordem do que é apresentado (o que não
aparenta ser comum) elas ainda questionam, e esta é a grande função do teatro,
colocar o espectador para questionar, para pensar, para ser livre de ideias e
ideais. Muitos saem comovidos, se veem divididos na música título quanto a
aplaudir o que foi cantado ou se conter pelo que foi apresentado. Mas ninguém,
arrisco dizer, ninguém sai da mesma forma que entrou.
No
fim quem assistiu concorda que o espetáculo faz uma crítica as inúmeras
religiões que se criam por aí, sem defender nenhuma igreja ou credo o musical
nos faz pensar se não acabamos tornando a cruz o maior espetáculo religioso, do
que o próprio Jesus. Será que vivemos o que ele ensinou e o que ele viveu? Ou
estamos ainda vivendo e seguindo o que as igrejas nos pedem? Quem assistir ao
espetáculo entenderá que a música título acaba dando mais destaque ao show do
que ao próprio Jesus. Será que não é isso que tudo acabou se tornando? Eu digo,
após 8 anos sem muito contato com alguma religião, este espetáculo me colocou
em contato com meu lado espiritual, pois acabei me vendo entre Jesus e a cruz,
e cada um decide depois para qual lado seguirá.
Foto: João Caldas - © T4F/Time For Fun
Numa
escala de 0 a 10 o espetáculo atinge nota máxima pelo cuidado em todos os
aspectos, desde visual até emocional. Luz, figurinos, maquiagem e talentos
estão todos muito bem alinhados para que o show se torne único e sim,
inesquecível.
Em
cartaz até dia 08 de junho este é um musical imperdível.
Perfeito!
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